Comecei a escrever ainda menina.

Sensível demais para o mundo, percebia cedo que o papel era mais seguro do que as pessoas.

Não escrevia por vocação, mas por sobrevivência.

Havia dentro de mim uma confusão de sentimentos, perguntas e dores que eu não sabia dizer em voz alta.

E, sem perceber, eu me derramava.

Escrevia para afastar de mim o peso do que vivia — e no processo, me aproximava de mim mesma.

Nos cadernos, encontrava um abrigo.

Ali eu podia pensar sem ser interrompida, chorar sem ser olhada, errar sem ser julgada.

Era o meu laboratório silencioso.

Eu me perguntava de tudo:

desde por que certas palavras eram escritas daquela forma até por que certas ausências doíam tanto.

E foi assim que a escrita se tornou minha primeira forma de autoregulação emocional.

Falo da escrita à mão

com o tempo entre o pensamento e a letra,

com o som do lápis riscando o papel.

Sem apagar.

Só riscando e escrevendo de novo.

Aprendi que a vida é exatamente isso:

sem rascunho,

sempre acontecendo ao vivo.

Esse hábito ainda me habita.

Às vezes na ponta do teclado,

às vezes ainda na ponta do lápis.

Mas sempre de dentro pra fora.

Hoje, escrevo não mais pra me defender, mas pra me reorganizar.

A escrita se tornou minha forma mais fiel de autocuidado.

E talvez por isso, ver um texto meu prestes a ganhar o mundo

é como reencontrar a menina que começou tudo

aquela que só queria compreender o que sentia,

e descobriu, escrevendo, que o que se entende pode curar.

Facebook
Pinterest
Twitter
LinkedIn

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *